7 de abril de 2009

À Sagrada Família

7 Novembre 1982
Record del Pas D. S S Joan Pav II
Son seves les paravles:

Aqvest temple de la Sagrada Familia recorda vna altra constrvcció feta amb pedra viva: “la familia cristiana”


O edifício ergue-se imponente entre os prédios de Grácia, que o cercam em berço de arte. Começo a calcorrear as pedras da calçada até à entrada metálica. Olho para cima, onde as núvens partilham o céu com as cinzentas torres de reentrâncias. Ouso entrar e fazer parte da obra. Vejo homens que se confundem uns com os outros numa correria de metais e pó, reconstruindo o passado, fazendo futuro, erguendo a Sagrada Família. Nas paredes movem-se as sombras de figuras de pedra. José, Maria e o Menino Jesus, multiplicados em várias fachadas, com faces de amor e uma pena estranha que acho em todos eles, como que a antever o destino da humanidade. As mãos são finas, graciosas, articuladas em perfeita harmonia entre as vestes ondulantes. Os ateus também sentem o coração perdido, por isso entrei e senti-me acolhida pela História. Os pés exitam-me na pedra gasta, fazia frio lá dentro, os altos pilares desabrochavam no tecto em palmeiras, mostravam os seus troncos cortados, iluminados por vitrines de flores solares. Havia uma luz filtrada pela magia das cores vitrais que tornam aquela floresta cristã, juntamente com as pessoas, ainda mais densa. Jurava que ouvia o vento por entre os pilares que agitavam ao ritmo da minha imaginação. Quis seguir sozinha o caminho, não sou capaz de explicar a beleza do silêncio que sentia no peito, a admiração dos meus olhos brilhantes, esta amargura de ser humana, a melancolia de um fim de tarde, esta coisa de sentir um Fado cá dentro que cabia tão bem dentro daquelas paredes. E sozinha fui. Tinha saudades de mim. Estava protegida alí. Gaudí certificou-se disso. Continuei embrenhada em algo que não se explica. Não era fé nem tão pouco vontade de extinguir os meus desejos no pavio de uma vela reciclada. Não era ouro, nem hóstias nem o sinal da Santa Cruz. Seria arte? Seria a reinvenção da Natureza? Acho que era apenas o resultado inacabado da tentativa de um Homem: construir com a razão um templo para abrigar corações. Para juntá-los numa celebração da Natureza e das coisas grandes e bonitas, como Cristo. Mas Cristo não o encontrei ali, encontrei-o no metro a caminha de casa, dentro de mim e em toda a gente de boa vontade.
O destino da Humanidade…há-de ser o que Deus quiser!

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