16 de setembro de 2014

Máscara


A face do medo

É suja, é grotesca

Agarra-se a estranhos

Numa sucção dantesca

 

Diz mal de quem teve

Do próximo e do que há-de vir

Não é mais do que o vazio

Que antevê no porvir

 

Maltrata, estiliza, goza

Inveja, cobra e desdenha

Sem fraque ou farpela

Que lhe justifique a façanha

 

Faz gaúdio do pouco que vale

Sobe o queixo de fraca figura

Arreganha o sobrolho,

Cospe na fervura

 

Não põe a mão no peito

Não contesta o que projecta

Não sabe que o outro

Lhe adivinha a intenção abjecta

 

Por isso definha

Numa vida de existir

A caminhar, a respirar

A sofrer, a extinguir

 

O circo já terminou,

Os palhaços abandonaram a cena

O medo ficou sozinho

Num futuro que dá pena

 

E das cinzas do fim dos dias

Ergue-se a justiça devida

A face do medo

Foi quem perdeu a vida