26 de setembro de 2009

Azul

Tu tens um olhar perdido em pormenores, vagueia pelos movimentos das folhas das árvores, ordena nomes aos pássaros, esquiva-se em sorrisos maldosamente doces e gritantes de “nós queremos”. Quando falhas o diálogo em ti, perscrutas os recantos da minha alma, vais ao mais íntimo do meu ser com um olhar, ficas o tempo que queres, usas da minha paciência, abres gavetas e remexes no que é meu. Teu. Nosso. Imaginado. Preciso… mais “necessário” do que “exacto”, mas ambos numa deliciosa dança em que os pares nunca se tocam.
O teu perfil é bonito. Moreno. Olhos sérios, vigilantes, de um castanho chocolate que exalta tudo o que há de travesso em mim. Olho-te sem discrição. É uma invasão sem precedentes. Permites que fique à porta, aceito resignada.
Todo o rosto é afilado. Esculpido em traços sólidos, fortes, rectos. Boca pequena, lábios finos onde adivinho o pecado. E pequei em tudo, com tudo, contigo. Sem remorso ou culpa, quando ela é toda minha.
Gosto de conversar contigo, de encaixar as tuas piadas, copiar os sorrisos e partilhar. É de partilha que se constrói a nossa hesitação.
Cheira a erva, quente, comprimida pelo peso dos nossos corpos cansados, um halo longínquo de café, um céu azul bordado de nuvens que o mancham de laranja. Suspiro. Tu és a perfeita definição de azul.