Este ano não houve festa. Pesam-me
os destilados variados, ensurdecem-me as tampas das panelas. De repente, as
pessoas parecem-me símios num projecto laboratorial. Condicionamento operante.
Se bateres as tampas com força atiram-te 12 passas. Se não, levas um choque
eléctrico. Bem vistas as coisas, não era má ideia. Estas bocas escancaradas de
batons vermelhos. Saias de lantejoulas, curtas, a antever coitos interrompidos de
última hora. Gargalhadas de
somos-bué-felizes-e-gostamos-de-o-mostrar-ao-mesmo-tempo-que-cantamos-anselmo-ralph-mesmo-sem-saber-a-letra.
Este amargo de boca. Esta auto-comiseração. Isto tudo faz-me mal. Exulta-me
despautérios. Dos feios e mal intencionados. Do tipo: “Cala-te sua otária de
merda, andas a mais no mundo, ainda por cima, de lantejoulas!”. Percebem? Ela é
só uma otária de merda, não tem culpa de ter mau gosto e ancas do tamanho da
proa de uma fragata.
Estou tão cansada de dizer que faço, de fazer o que dizem,
de dizer por dizer e de fazer porque sim. “Bom ano!” (com o sorriso cordial que
o aparelho me deu, valha-me isso). As provas de resistência a que a simpatia me
obriga…
Integra-te, sê melhor, pega nas pedras do caminho e faz um
castelinho com a tua vida que é a tua própria empresa e não pode falir.
Tenho arritmias que tentam travar a sordidez da minha
solidão. A gaguez de um coração que não sabe dizer que não. Mas também não quer
dizer que sim. Não assume. Não quer sentir. De costas voltadas com os amores
mal amados. Não quero ser esta gente. Toda eu superficial e moldada às
necessidades da efeméride.
Vi uma fotografia minha. Sou bonita. Alta. Pareço feliz. A
brindar e tudo.
Brindei secretamente a mim e à negação da falência tão óbvia
desta geração, ainda que toda eu estremeça perante o monstro do futuro.