4 de janeiro de 2014

Revisão não-tão escatológica de 2013



Este ano não houve festa. Pesam-me os destilados variados, ensurdecem-me as tampas das panelas. De repente, as pessoas parecem-me símios num projecto laboratorial. Condicionamento operante. Se bateres as tampas com força atiram-te 12 passas. Se não, levas um choque eléctrico. Bem vistas as coisas, não era má ideia. Estas bocas escancaradas de batons vermelhos. Saias de lantejoulas, curtas, a antever coitos interrompidos de última hora. Gargalhadas de somos-bué-felizes-e-gostamos-de-o-mostrar-ao-mesmo-tempo-que-cantamos-anselmo-ralph-mesmo-sem-saber-a-letra. Este amargo de boca. Esta auto-comiseração. Isto tudo faz-me mal. Exulta-me despautérios. Dos feios e mal intencionados. Do tipo: “Cala-te sua otária de merda, andas a mais no mundo, ainda por cima, de lantejoulas!”. Percebem? Ela é só uma otária de merda, não tem culpa de ter mau gosto e ancas do tamanho da proa de uma fragata. 

Estou tão cansada de dizer que faço, de fazer o que dizem, de dizer por dizer e de fazer porque sim. “Bom ano!” (com o sorriso cordial que o aparelho me deu, valha-me isso). As provas de resistência a que a simpatia me obriga… 

Integra-te, sê melhor, pega nas pedras do caminho e faz um castelinho com a tua vida que é a tua própria empresa e não pode falir.

Tenho arritmias que tentam travar a sordidez da minha solidão. A gaguez de um coração que não sabe dizer que não. Mas também não quer dizer que sim. Não assume. Não quer sentir. De costas voltadas com os amores mal amados. Não quero ser esta gente. Toda eu superficial e moldada às necessidades da efeméride. 

Vi uma fotografia minha. Sou bonita. Alta. Pareço feliz. A brindar e tudo. 

Brindei secretamente a mim e à negação da falência tão óbvia desta geração, ainda que toda eu estremeça perante o monstro do futuro.