29 de novembro de 2012

Ainda não temos fotografias


Deixaste os ecos das gargalhadas em algum azulejo da cozinha, onde te quis prender com o cheiro do pimentão doce. Espero que saibas que não gosto de cozinhar. Gosto só que alguma parte do teu dia fique a meu cargo. Tenho por hábito observar-te as introspecções. E tu finges tão mal que não sabes que estou a olhar. Não te preocupes porque eu não sei mesmo no que pensas. Estás detido lá longe numa das tuas inúmeras vidas paralelas. Não gosto. Eu quero interceptar pelo menos uma porque tenho para mim que esse ponto me dá um sentido à vida. Um novo. Que não precise de indicações da razão. Às vezes dou-te a mão e sei que podia levar-nos onde tu quisesses. Que o que cabe no verde dos teus olhos é tudo aquilo que diz que sim à verdade. Estou cheia de certezas tolas... E eu juro que não sabia. E não quis. Não apareci de propósito, não engendrei um plano. Mas desejei que me ouvisses uma vez e que decidisses que podias gostar um bocadinho de mim. Temi que o miúdo que conheci, de cabelo à banda, vizinho de comboios, fosse o que todos pensavam saber. Mas quis fazer parte da tua minoria. Vota em mim. Eu prometo que vou fazer o melhor que puder. Mesmo quando o nosso entendimento não molda a mesma ideia e ficamos em silêncio, juntos, mas sem união. E quando o tempo não nos concede mais que momentos dispersos. 
Vou agarrar neles e colar uma fotografia bonita.