11 de setembro de 2011

11 de Setembro




Para isto "caminha" a humanidade, a passos largos para o abismo.

Pedro Cabrita Reis – One after another, a few silent steps


E é assim, logo à entrada, um pé atrás do outro, em passos silenciosos. Esta coisa dos museus é mesmo assim. Ou isso ou há reprimenda vestida de segurança ou um esgar de desprezo perfumado a Yves Saint Laurent. Muito enfiada lá fui eu à primeira sala onde sou presenteada com quatro paredes iluminadas a lâmpadas fluorescentes, o que nos leva a pensar que o Sr. Cabrita não conhece as lâmpadas economizadoras ou de baixo consumo. Também eram mais caras e não sabemos se porventura o Joe e a sua Cê Vê Éme viabilizariam budget. E depois… também era difícil abrir janelas visto que não as há. Portanto, “True Gardens # 7” (Lisboa, 2011), a contradição entre as dezenas de armações de luz inutilizadas [a Quercus que te perdoe], resultantes de obras destruídas em sucessivos processos de montagem, desmontagem e armazenamento, e o solitário ponto de luz [coitado] que no meio delas se revela, tem uma evidente função metafórica”. Sinto-me esmagada pela minha própria incapacidade em compreender a metáfora. Se calhar era uma alegoria, daí a minha dúvida.
Se nos virarmos para “The Large Self-Portraits, 2005”, já temos uma imagem, quer no sentido lato da palavra quer enquanto figura de estilo. Aí já eu consigo vislumbrar alguma auto-estima com níveis acima dos normais, vá, aquele amor-próprio. Pronto, é um egocêntrico de merda que, se ainda fosse bonito, seria aprazível ao olhar. Naquela altura desejei honestamente ser um dos seus cegos e estar bem longe, lá em Praga.
Então ceguei nas seguintes obras. Mais tarde cheguei a um “espaço privilegiado de confronto entre materiais ricos e pobres: o alumínio cruza-se com a madeira ou instalações eléctricas”. Finalmente Sr. Cabrita! Agora fez-me lembrar um dos muitos bairros de barracas na Amadora. Isso é um pouco transversal a todos, é palpável, vê-se, mas não se perde tempo com isso porque não é arte. Bom, nesses casos há francas melhorias em relação ao seu trabalho, até porque eles conseguem ter água potável. Duvido, no entanto, que seja um espaço privilegiado para eles.
Mas o plinto, o plinto sim… a “colecção de portas velhas” que integram “um duplo plinto – um plinto para coisa nenhuma”. Aí está, para coisa nenhuma. Bem como a pilha de portas a um canto da sala. Também levam a “coisa nenhuma”. Mas, no fundo, estas “formas escultóricas surgem como modelos de algo que não identificamos de imediato. Constroem-se a partir de módulos idênticos entre si, ocupam de modo disperso mas ordenado o espaço e determinam os circuitos dos visitantes da sala”. Realmente eu não consegui identificar de imediato esse seu algo que é só seu mesmo. Nem de imediato nem agora. E duvido que futuramente vá perder tempo com isso. Lamento que aquilo me obrigasse a uma gincana determinada por si, eu que queria ir direitinha à porta de saída.
Agradeço ao Sr. João Pinharada por ter tentado ajudar-me a mim e aos restantes visitantes, mais argutos que eu, certamente, com as citações que usei, retiradas da brochura respeitante à exibição. Agradeço ao Sr. Pedro Cabrita Reis que tenha rejeitado a adopção das regras do acordo Ortográfico em vigor. Ao menos aqui estamos de acordo. Obrigado Joe, a exposição é apenas temporária.