Oito a Oitenta...o extremo, a sequência, a reviravolta, o princípio e o fim e tudo o que está no meio.
29 de maio de 2011
O teu filho
Há-de correr em ziguezague pelo campo atrás do rasto de cores das asas das borboletas. Vai apanhá-las e abrir muito os olhos a tentar perceber o movimento frágil das asas, contemplando o mistério da vida entre as mãos. Vai apanhar bichos-da-seda e escondê-los em caixas esburacadas com a ponta de uma caneta, espreitando todos os dias a antever os casulos. Vai fazer desenhos pequenos que vais trocando de mês a mês nas divisórias da carteira. Vai dar aqueles abraços apertados no pescoço e dizer que gosta de ti. Vai cair da bicicleta e chorar muito com a marca no joelho que vai ficar para toda a vida mas que o vai lembrar que no outro dia conseguiu subir ao topo da nespereira e trazer à mãe as melhores nêsperas, as que ainda não foram bicadas pelos pardais.
Vai ler os livros dos Cinco com o chapéu a três quartos, horas a fio, deitado na relva. Vai adormecer nas viagens para Arganil e perguntar se falta muito. Vai partir algumas caixas dos teus CDs e aborrecer-te com “porquês”. Vai levar uma palmada quando atravessar a estrada a correr e chorar com a força da vergonha. Vai virar-te as costas e depois dar-te a mão.
Vai sair da escola contente porque o teste de História correu muito bem. Vai fabricar outros mundos com os amigos porque este nunca vai ser suficiente. Vai sonhar, inventar-se, ordenar o movimento dos astros e do futuro. Sempre com uns grandes olhos de amêndoa a exalar orgulho no Pai.
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