13 de março de 2011

Ne me quitte pas

É essa tua forma de me olhar e tentar perceber-me, essa tua curiosidade que se destacou entre milhões de pessoas. Tenho vergonha, despes-me com o olhar nesse teu jeito envergonhado mas tão cheio de intenção reprimida. Falamos durante duas horas e as pessoas desaparecem, estamos sozinhos num manto negro que embala os nossos corpos. Teimamos em não cruzar olhares. A música esbate-se em notas confusas. Eu já sei de ti mas conta-me mais um pouco. Quero ouvir a tua voz doce. Não entendo metade do que dizes mas já sei que vou querer passar a vida toda a perceber. Tu descodificaste-me e já os meus olhos te disseram tudo. Dás-me um beijo que não esperava, e eu que tenho estado à espera há tanto tempo. À tua espera, à espera de ser levada ao colo, de depender dos pilares do teu abraço, da tua força e honestidade, de tudo o que é certo mesmo quando o futuro é incerto. Deste presente tão sincero, deste encaixe perfeito que é tão nosso e não podia ser de outros dois. Dos momentos em que os nossos olhos já se cruzam intencionalmente, em busca daquilo que nunca viram mas já sonharam. E é sentir-me tão bela e cómoda na minha própria pele. É sentir que a tua pele é uma continuidade da minha e que fomos desenhados para ser uma contínua obra de arte inacabada. Fica.


“Ne me quitte pas
Il faut oublier
Tout peut s'oublier
Qui s'enfuit déjà
Oublier le temps
Des malentendus
Et le temps perdu
A savoir comment
Oublier ces heures
Qui tuaient parfois
A coups de pourquoi
Le coeur du bonheur
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas”

Jacques Brel - Ne me quitte pas